‘faz dezesseis anos que tivemos doze’ surge do estranhamento com o território onde passei os primeiros dezoito anos de vida. Carlos Barbosa é uma cidade do interior do Rio Grande do Sul localizada na serra gaúcha. Fundada em 1959, o município foi formado principalmente por famílias de imigrantes italianos que já habitavam a região. A cidade se moldou no rastro de indústrias – hoje nacionais e centenárias – e conta atualmente com cerca de 25 mil habitantes, além de figurar entre os municípios com a melhor qualidade de vida do estado, quando analisados índices que avaliam renda, educação e saúde.
É da memória familiar das gerações que por lá passam a produtividade como condição para a existência. A busca por uma eficiência e o pragmatismo industrial transcenderam o chão de fábrica e se misturaram às perspectivas culturais e políticas da cidade. Em Carlos Barbosa o progresso sempre caminhou com a ordem e foi sinônimo de ascensão econômica. As relações sociais se desenvolvem como simulacros de hierarquias empresariais e o futuro só é possível a partir de um único presente, mesmo que em conflito com o passado.
Nos últimos anos voltava lá para fotografar e observar. A rotina e a paisagem da cidade, antes diluídas no cotidiano, revelaram-se menos superficiais. Assim como as relações, tudo foi afetado pela distância e o pelo tempo. Essa cidade nova, idealizada e controlada, surgiu nas caminhadas pelas ruas, agora quase todas asfaltadas.
O trabalho foi selecionado para participar da convocatória “Fotografia, Amor e Luta”, organizada pela Revista Old, e exibida em uma série de projeções em diferentes cidades.