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faz dezesseis anos que tivemos doze surgiu a partir do estranhamento que tive com a cidade onde passei os primeiros dezoito anos da minha vida. Longe de lá desde 2006, há uns quatro anos comecei a refletir como a cidade me influenciou. Que amarras eu ainda carregava do tempo passado lá? Do micro pensei no macro e em como um modelo de cidade afeta a dinâmica das pessoas. Qual concepção de sociedade uma cidade desenvolve?
Carlos Barbosa é uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Formada principalmente por famílias de imigrantes italianos a cidade abriga indústrias tradicionais e centenárias, conta com cerca de 25 mil habitantes e figura no topo da tabela entre os municípios com a melhor qualidade de vida do estado, quando analisados índices que avaliam renda, educação e saúde.
Seja na interferência da paisagem ou no condicionamento de um estilo de vida, o desenvolvimento de Carlos Barbosa se confunde com o crescimento de um par de empresas que lá surgiram. Está na raiz da cidade, ainda dos tempos da migração, a produtividade como condição para a existência. O culto da eficiência e o pragmatismo industrial transcendem o chão de fábrica e se misturam às perspectivas individuais e coletivas, fomentando uma necessidade de racionalização e uma sensação de que tudo existe porque, afinal de contas, é assim que é.
Nos últimos anos voltava lá para fotografar e observar. A rotina que me era tão comum, cada vez mais me causava estranhamento. A paisagem antes despercebida agora me chamava a atenção. As relações que sempre foram tão naturais cederam lugar pra um desconforto provocado pela distância e pelo tempo.
Veio a pandemia e as expedições foram interrompidas.
Voltei pro arquivo desses últimos anos e percebi que tudo acabava se repetindo. O trabalho estava pronto, pelo menos até aqui.